A Ação Social Arquidiocesana (ASA), por meio do Centro Maria Imaculada (CMI), realizou nesta sexta-feira (24) o seminário “Janeiro Branco e Roxo”, para debater o impacto do estigma na saúde mental das pessoas acometidas pela hanseníase. O objetivo do evento foi conscientizar a população sobre a importância do diagnóstico precoce, desmistificar mitos sobre a doença e combater o preconceito contra os pacientes.
A coordenadora do CMI, Stephanie Maria, destacou a relevância do seminário como um espaço de discussão para alertar sobre os danos psicológicos causados pelo estigma da doença, que muitas vezes resulta em exclusão e isolamento social. “O estigma da hanseníase é tão prejudicial quanto a doença em si, afetando diretamente a saúde mental e emocional dos pacientes. Nosso objetivo é promover a conscientização e o acolhimento, para que todos tenham acesso ao tratamento adequado e possam viver com dignidade”, afirmou.
O evento também contou com relatos de pacientes que passaram por diagnósticos tardios e enfrentaram dificuldades devido ao preconceito social. Um exemplo foi o de Francisco Mendes, 62 anos, diagnosticado com hanseníase aos 51. Ele relatou que, apesar de já estar curado há 12 anos da doença, o diagnóstico tardio deixou sequelas permanentes em sua vida. “Fiquei fazendo o tratamento por um ano e, infelizmente, as sequelas ficaram. Tenho sequelas para o resto da vida. Não sinto nada nas pernas e no braço, é como se estivessem dormentes, e às vezes até me queimo em casa, quando toco na chaleira e não sinto nada. A minha vida agora é a fisioterapia, que faço todos os dias, de segunda a sexta-feira. Se eu não continuar, minhas pernas podem falhar e eu não conseguirei andar mais. A fisioterapia se tornou essencial para mim.”
Assim como seu Francisco, a profissional de serviços gerais Luciana Fontenelle, atualmente afastada do trabalho, contou que o despreparo no âmbito da saúde prejudica o diagnóstico precoce e deixa sequelas para toda a vida. “O diagnóstico da hanseníase foi muito difícil de ser feito, e mesmo tendo plano de saúde, não foi fácil. Eu tinha manchas brancas e fui a vários dermatologistas, mas ninguém descobriu o que era. Eles diziam que era só alergia e me mandavam usar pomadas. Mas eu sentia uma dormência nas pernas e nos braços, uma dor muito forte, e até perdi a força no braço, a ponto de precisar fazer uma cirurgia.” Luciana reforçou a importância de buscar um diagnóstico precoce diante da menor suspeita. “Eu vejo que o problema é que muitos médicos não fazem o diagnóstico logo. Se eu tivesse descoberto mais cedo, talvez o problema no meu braço não tivesse ficado tão grave. Demorei muito tempo tomando remédio para alergia, sem saber que estava tratando a coisa errada. Se alguém tiver alguma suspeita, tem que procurar ajuda, porque é muito importante tratar a doença o quanto antes.”
Além disso, a fisioterapeuta Ayane Lima, que trabalha no CMI, explicou como o acompanhamento fisioterápico desempenha um papel crucial no tratamento de pacientes com hanseníase, especialmente aqueles com sequelas da doença. “No nosso trabalho de fisioterapia, buscamos não apenas reabilitar as deformidades, mas também incentivar uma vida ativa, porque sabemos que a atividade física é essencial para a saúde a longo prazo. Temos dois ambientes de trabalho na fisioterapia: o ginásio, onde focamos em exercícios resistidos para ganho de força, mobilidade e alongamento, e o setor de eletroterapia, que é utilizado para aliviar as dores de pacientes com neurite, por exemplo, ou que estão com algum quadro de lesão, usando recursos como eletroterapia e fototerapia.”
O CMI também tem se empenhado em promover a educação e o treinamento de profissionais de saúde para que a hanseníase seja diagnosticada de maneira mais eficaz e precoce. “Falta cultura sobre a suspeita da doença. O teste rápido é simples, barato e acessível, e pode fazer a diferença para um diagnóstico mais rápido e um tratamento adequado”, enfatiza Ayane Lima.
O Centro Maria Imaculada é uma instituição de referência no tratamento da hanseníase em Teresina, oferecendo atendimento médico, psicológico e fisioterápico especializado para pacientes acometidos pela doença. Com uma abordagem humanizada, o CMI tem se destacado pelo acolhimento e pelo trabalho contínuo na conscientização sobre a hanseníase e no combate ao estigma associado à doença.